[Resenha] O Cortiço, Aluísio Azevedo

imagem: Amazon

Livro: O Cortiço

Autor: Aluísio Azevedo

Editora: Difusão Cultural do Livro

Páginas: 152 (23 capítulos)

Sinopse: A obra busca recriar a realidade dos agrupamentos humanos sujeitos à influência da raça, do meio e do momento histórico. O predomínio dos instintos no comportamento do indivíduo, a força da sensualidade da mulher mestiça, o meio como fator determinante do comportamento são algumas das teses naturalistas defendidas pelo autor ao lado de denúncias sociais. O protagonista do romance é o próprio cortiço, onde se acotovelam lavadeiras, trabalhadores de pedreira, malandros e viúvas pobres.

"E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo-a de espanto e de um instintivo temor, cuja origem a pobrezinha, na sua simplicidade, não podia saber qual era."

Opinião: Está é a segunda vez que leio O Cortiço, li pela primeira vez durante o Ensino Médio e lembro ainda que era um livro que adaptou a história para os quadrinhos, assim a leitura era bem mais fácil e dinâmica para a minha faixa etária na época.

Dessa vez decidi ler o livro mesmo, com o texto integral, confesso que no início foi bem difícil, a narrativa possuí uma linguagem com a qual não estou acostumada e muita das palavras eu não conhecia, esse foi um dos motivos que fizeram com que a minha leitura tenha se arrastado bastante no começo.

"Rita havia aboletado a amiga, a princípio em casa de umas engomadeiras do Catete, muito suas camaradas, depois passou-a para uma família, a quem Leocádia se alugou como ama-seca; e agora sabia que ela acabava de descobrir um bom arranjo num colégio de meninas."

Outro motivo pelo qual a leitura seguiu em um ritmo mais lento, foi por conta da história, conhecer e se ambientar n'O Cortiço não foi fácil. São muitos personagens e muitas histórias simultâneas sendo introduzidas de forma bem rápida, mas foi uma questão de tempo até eu me adaptar e dar continuidade na narrativa. 

Não temos um único protagonista nessa narrativa, apesar da história central girar em torno de João Romão, o dono do cortiço, e de Bertoleza, sua parceira, todos os personagens que vivem no local tem uma história a contar.

"Este resvalamento do Jerônimo para as coisas do Brasil penalizava profundamente a infeliz criatura. Era ainda o instinto feminil que lhe fazia prever que o marido, quando estivesse de todo brasileiro, não a queria mais para nada e havia de reformar a cama, assim como se reformou a mesa."

Das muitas histórias, algumas se destacam mais, como a trajetória de Pombinha, que foi de boa moça à prostituta, a triste história de Piedade, Jerônimo e Rita Baiana, e claro, o fim trágico de Bertoleza.  

Ler O Cortiço nos faz refletir muito sobre uma realidade antiga do Brasil, mas não necessariamente tão diferente do que vivemos hoje. É claro muitos dos costumes, do modo de falar e do comportamento evoluiu muito, mas em muitos momentos conseguimos identificar um rastro desse comportamento do cortiço na nossa rotina ainda hoje. 

"A praia estava deserta. Caía um chuvisco. Ventos frios sopravam do mar. O céu era um fundo negro, de uma só tinta; do lado oposto da baía os lampiões pareciam surgir d'água, como algas de fogo, mergulhando bem fundo as suas trêmulas raízes luminosas."

A leitura d'O Cortiço foi essa experiência única, no início uma leitura complicada, mas depois uma história que me envolveu muito e com certeza vai ficar marcada por muito tempo no meu repertório literário, recomendo principalmente para quem quer sair da sua zona de conforto e ler algo diferente e desafiador.