[Resenha] Capitães da Areia - Jorge Amado

imagem: Saraiva

Livro: Capitães de Areia

Autor: Jorge Amado

Editora: Companhia das Letras

Gênero: Romance

Número de páginas: 283

Sinopse: Pedro Bala, Professor, Gato, Sem Pernas e Boa Vida são adolescentes abandonados por suas famílias, que crescem nas ruas de Salvador e vivem em comunidade no Trapiche. Eles praticam uma série de assaltos e são constantemente perseguidos pela polícia. Um dia, Professor conhece Dora e seu irmão Zé Fuinha e os leva até o Trapiche, o que desencadeia a excitação dos demais garotos, que não estão acostumados à presença de uma mulher no local. Aos poucos, nasce o afeto entre o líder do grupo e a jovem.

"Pedro, que estava de olhos fechados, adivinhou que o velho chorava. Mas continuou fingindo que estava dormindo. Ogum doía nos ossos da sua cabeça. Os presos continuavam a pilheriar  com o pederasta e o velho, até que chegou outro guarda e falou para o velho: - Você, velhote. Vamos..."

Opinião: Capitães da Areia nos conta a história de crianças que vivem abandonas em um velho trapiche na cidade de Salvador, onde cometem diversos furtos e aterrorizam a todos. Nesse grupo, conhecemos Pedro Bala, o líder dos Capitães, Professor, o único do grupo que sabe ler, Sem-Pernas, que se utiliza da sua deficiência física para invadir casas de madames, Volta Seca, que é afilhado de Lampião, Pirulito, que quer ser padre, e Gato, um galanteador que se apaixona por uma prostituta.

Para mim, a trajetória dos Capitães da Areia se dividem em duas partes: antes e depois de Dora, uma menina que perde os pais ainda muito jovem e acaba cruzando o caminho do grupo. Todos eles tem um carinho especial por ela, uns a consideram uma irmã, outros uma mãe, mas para Pedro Bala, ela é noiva, e depois esposa, ela leva ao trapiche um pouco do afeto que os meninos nunca tiveram em suas vidas.

Capitães da  Areia não tem uma história especifica, Jorge Amado vai narrando a trajetória de vida desse grupo, ao final, cada um toma seu rumo na vida, o que mais demora para se encontrar é Pedro Bala, que inclusive é meu personagem preferido, gosto muito da sede de liberdade que ele tem, e também de seu espírito de luta, que quer sempre estar ao lado dos grevistas, lutando pelos mais pobres.

A obra de Jorge Amado nos provoca muito e nos faz pensar na situação de milhares de crianças que levam uma vida muito similar aos dos Capitães da Areia, por mais que eles cometam crimes, enquanto lemos o livro, o leitor sente uma certa empatia pelo grupo. Acho que o personagem Padre José Pedro representa bem esse sentimento, ao mesmo tempo em que ele quer ajudar os meninos, ele sabe que o que eles fazem é extremamente errado. 

Ao longo da narrativa nós vamos conhecendo melhor cada um dos Capitães, o que faz com que nós possamos entender o motivo de cada um estar ali, levando aquela vida. Capitães da Areia é um livro que mesmo antigo, continua com uma temática muito atual, e ao ler você é tirado de uma zona de conforto e se obriga pensar em todo o contexto social que vivemos.

"Quando Sem-Pernas e João Grande chegaram, Pedro Bala se levantou da areia e reuniu os chefes. Foram para junto da vela do Professor. Dora veio também e sentou entre João Grande e Boa Vida. O malandro acendeu um cigarro, falou para Dora: - Tou aprendendo tocar um samba porreta. E tou cavando um violão, irmã."